De quem é o verdadeiro interesse em aumentar a poluição dos rios?


– Na contramão: Instituto das Águas, órgão do Governo do Estado, pretende reclassificar os rios, permitindo que recebam mais efluentes, ou seja, que sejam mais poluídos –
Na contramão de muitas iniciativas em todo país que visam poluir menos os rios, surge uma proposta do Instituto das Águas do Paraná, órgão que faz parte da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, que pretende uma nova classificação dos rios afluentes do Rio Tibagi. Com isso, alguns rios poderão receber ainda mais poluentes. Seria como dizer “a partir de agora podem poluir mais os rios”. Desse modo, aproximadamente 17 rios que integram a Bacia Hidrográfica do Tibagi receberão mais efluentes, ou seja, serão ainda mais contaminados. Trata-se de “condenar os rios à morte”.
Atualmente a maior parte da Bacia do Tibagi está classificada como nível 1 ou 2, isso significa que estes rios recebem ou devem receber poucos efluentes. Mas, o projeto prevê que parte dos rios sejam classificados como nível 4. Neste caso, poderão receber mais materiais poluentes. De acordo com a resolução nº 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): “o enquadramento das águas deve assegurar para as gerações futuras a necessária disponibilidade de água e com padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.
Segundo a professora e doutora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Maria Ligia Cassol, é preciso entender os verdadeiros interesses nessa reclassificação. “Quem são os verdadeiros interessados nisso? Certamente aqueles que ganham dinheiro com a exploração da água, como indústrias, setor agropecuário e outros que serão beneficiados com isso. Por outro lado, os consumidores que utilizam a água para consumo ou tem alguma atividade ligada aos rios, como a exploração da pesca, serão prejudicados com a água poluída e produtos contaminados”, explicou.
O geógrafo e mestre em Gestão de Território, Henrique Simão Pontes, aponta que alguns rios que estão na lista da reclassificação possuem ou vão receber Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) da Sanepar. “É impossível não relacionar um possível interesse da Sanepar nestas mudanças, pois em alguns trechos de rios que serão reclassificados existem Estações de Tratamento de Esgoto da empresa e em outros pontos estão programadas construções deste sistema de tratamento. Um exemplo disso é o Rio Pitangui que abastece o município de Ponta Grossa. Com as mudanças, a Sanepar poderá lançar mais efluentes do que já lança nos rios”.
A procuradora federal Bianca Chemin afirma que a medida servirá apenas para que sejam ejetados mais materiais poluidores nos rios. “Desse modo, os rios ficarão mais contaminados. Acredito que se a Sanepar não possui condições de tratar a água, com um tratamento adequado, precisa buscar outra saída e não reclassificar os rios, para que possam receber mais poluentes. A empresa tem a concessão do abastecimento e é paga pelo poder público para tratar e não para poluir os rios”, destacou a procuradora.
Por outro lado a Sanepar, através de nota encaminhada pela Assessoria de Imprensa, disse que a proposta da nova classificação dos rios não é da empresa e sim da Câmara Técnica do Comitê de Bacia do Tibagi, comitê que a Sanepar também integra. “A discussão sobre a classificação do Tibagi está sendo feita na Câmara Técnica do Comitê de Bacia do Tibagi. A Sanepar e muitas outras entidades fazem parte da Câmara Técnica. O Instituto das Águas do Paraná licitou e contratou uma empresa para fazer o diagnóstico e o estudo dos cenários, para depois apresentar uma proposta de classificação do Tibagi. A Câmara Técnica acompanhou esse trabalho e pôde questionar e opinar durante todo o processo, que levou mais de um ano. A proposta final, portanto, não é da Sanepar, mas da Câmara Técnica, a partir desse estudo e discussões”, afirmou a Sanepar.
A Sanepar também destacou que é favorável a manutenção da qualidade da água dos rios: “a Sanepar tem todo interesse na qualidade das águas do Tibagi, pois essa água é utilizada para abastecimento público e estão previstos grandes investimentos para que essa qualidade seja mantida, dentro de uma proposta com metas progressivas”, concluiu a Sanepar.
Diante disso, ficam algumas questões: como ficarão as gerações futuras? E as pessoas e demais seres vivos que dependem do rio para sobreviver? Tomaremos água ainda mais poluída? O correto não seria investir no tratamento e na preservação dos rios e não na destruição? A reclassificação não deveria ser inversa? Ou seja, permitir a preservação e manutenção da qualidade dos rios? Quem realmente será beneficiado com estas alterações? Será que as pessoas só vão se preocupar com os rios, quando estiverem morrendo? Pode ser tarde!
Veja os principais rios que serão afetados por essa reclassificação: