Close

Crônica da semana: A casa que habita em mim – Lenita Stark

Crônica da semana: A casa que habita em mim – Lenita Stark
  • Publishedsetembro 17, 2021
(Foto: Reprodução/G1) – casa localizada na Rua Theodoro Rosas, em Ponta Grossa.

A crônica desta sexta-feira (17) integra o Projeto Crônicas dos Campos Gerais. O projeto é realização da Academia de Letras dos Campos Gerais e parceiros. Visa fomentar e divulgar percepções sobre os Campos Gerais do Paraná, estimulando o relato escrito (crônicas) de vivências da população regional ou visitantes.

As crônicas vão ao ar todas as sextas, durante o Jornal Falado, das 12h às 13h, na Rádio Clube 94,1 FM e em parceria com o Blog da Mareli Martins.

A interpretação é da jornalista Mareli Martins. A edição é do músico e sonoplasta John Elvis Ribas Ramalho Junior.

A crônica ‘A casa que habita em mim’ foi escrita pela artista visual Lenita Stark. A escritora destaca as casas de madeira construídas em Ponta Grossa, entre as décadas de 1920 até 1950.

“As casas eram românticas, as varandas, convite para um chimarrão no fim da tarde. Beirais com belíssimos lambrequins como adornos, quintais conservados, com plantas da época, jardins ao redor da casa. Arquiteturas que transmitem significado de existências passadas. Mãos talentosas de imigrantes, mestres carpinteiros, que deixaram um legado precioso em nossa região”, escreveu Lenita Stark.

Informações sobre a crônica:

Título: A casa que habita em mim

Autora:Lenita Stark (artista visual)

Crônica retirada do Blog Crônicas dos Campos Gerais: Crônicas dos Campos Gerais: Casa que habita em mim (cronicascamposgerais.blogspot.com)

Projeto Crônicas dos Campos Gerais: O projeto é uma realização da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) em parceria com órgãos e entidades da região ligados à cultura, à educação e às comunicações. Visa fomentar e divulgar percepções dos moradores ou visitantes sobre os Campos Gerais do Paraná (cidade e campo), de forma a estimular o relato escrito com qualidade literária (crônicas) de experiências e vivências regionais, sejam elas reais ou fictícias, cotidianas ou inusitadas. Trata-se de iniciativa no sentido da divulgação e inclusão cultural e literária.

Interpretação da crônica : Mareli Martins

Edição: John Elvis Ribas Ramalho Junior – músico e sonoplasta

Trilha musical de fundo: Jordy Chandra – You’re Weird in a Cute Way e Park Bird – Strawberry Jam Sandwich

Trilha musical final: Casa Velha (Agepê)

CLIQUE NO LINK PARA OUVIR A CRÔNICA

OUÇA TODAS AS CRÔNICAS

https://marelimartins.com.br/category/cronicas/

Projeto Crônicas dos Campos Gerais – realização da Academia de Letras dos Campos Gerais

Casa que habita em mim

Texto de autoria de Lenita Stark, artista visual, Ponta Grossa

A casa da minha infância era um casarão caiado, de madeira falquejada, na beira da rua, de terra batida. O telheiro era de tabuinhas de pinheiro. Não havia banheiro, o banho era de bacia no quarto onde a gente dormia. Portas e janelas com tramelas. A cozinha com fogão a lenha, era o palco, onde a minha avozinha narrava seus causos, lugar preferido da casa, em que a gente mais ficava, curiosas para ouvir os causos de visagens que ela nos contava.

No quintal havia uma fornalha, o dia de assar pães era sempre uma festa para nós, crianças, desde o início do fogo até os pães ficarem prontos — não arredávamos os pés do quintal, o cheiro da fumaça e o aroma do pão assado mesclavam-se com o perfume das flores cultivadas pela avozinha, ao redor da casa. Era para nós um momento especial.  Nos arredores do casarão havia muitas árvores frondosas, fazíamos perigosas incursões em seus galhos.

À noite, as tábuas das paredes falavam — entre estalos dialogavam. Pelas frestas da parede o vento entrava uivando pela casa — debaixo das cobertas a gente suava frio de medo. Antes do sono chegar não contávamos carneirinhos, a contagem era dos sarrafos nas paredes do quarto.

Assim, cultivei sentimentos — memória afetiva, por esses espaços singulares de habitação, que, com zelo e manutenção resistem ao tempo; quando uma tábua padece, troca-se, tudo nela é dedicação e carinho, uma casa de madeira é como um ninho, sempre é possível uma transformação para maior conforto. 

Participei de um grupo de desenhos ao ar livre; em nossos encontros, conheci e retratei memoráveis habitações de madeira, de nossa cidade, muitas construídas por imigrantes: poloneses, alemães, italianos e ucranianos.

Em Ponta Grossa foram construídas dezenas de casas de madeira, entre as décadas de 1920 até 1950, uma época em que a madeira era farta e a concretude ainda não tinha invadido os sonhos de moradia das pessoas. As casas eram românticas, as varandas, convite para um chimarrão no fim da tarde. Beirais com belíssimos lambrequins como adornos, quintais conservados, com plantas da época, jardins ao redor da casa. Arquiteturas que transmitem significado de existências passadas. Mãos talentosas de imigrantes, mestres carpinteiros, que deixaram um legado precioso em nossa região. 

Casas que conservam a essência de seus habitantes, marcas de humanidade em suas dependências. São legados do passado, que logo deixarão de fazer parte do nosso cenário urbano.

Deixe uma resposta