Justiça faz acordo com Rodonorte e abre mão de R$ 5 bilhões que pedageira deve ao Paraná


Um acordo firmado entre o Ministério Público Federal (MPF), o Governo do Estado do Paraná, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), a Agência Reguladora (Agepar) e a Rodonorte, libera a pedageira de uma dívida de mais R$ 5 bilhões com os usuários do Paraná.
Além de obras não realizadas, a Rodonorte participou do esquema de corrupção nos pedágios do Paraná, investigado pela Operação Integração, coordenada pelo Ministério Público Federal do Paraná. A Rodorte confessou a corrupção e chegou a colocar placas nas rodovias do Estado, pedindo perdão por ter roubado os paranaenses. As outras concessionárias também confessaram a corrupção. Além das placas, a corrupção foi confirmada no acordo de leniência firmado entre as concessionárias e o MPF.
A dívida das seis pedageiras com o Estado passa de 10 bilhões de reais em obras não realizadas. Deste montante, só a Rodonorte era devedora de mais de R$ 6,4 bilhões.
No entanto, no acordo homologado pela Justiça Federal do Paraná, na última quarta-feira (07), o valor declarado como ‘devido’ pela empresa foi de apenas R$ 321.223.158,92 (trezentos e vinte e um milhões, duzentos e vinte e três mil, cento e cinquenta e oito reais e noventa e dois centavos).
Além disso, com o acordo, a Rodonorte não fará a duplicação total da PR-151, em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais. E simplesmente terá que duplicar um pequeno trecho, que envolve o entroncamento com a PR-438, sentido Palmeira, no acesso ao aeroporto Sant’Ana.
Vale dizer que todas as empresas que possuem concessão de pedágio no Paraná estão envolvidas em corrupção: Viapar, Rodonorte, Econorte e as empresas do Grupo CR Almeida, Ecocataras, Caminhos do Mar e Ecovia.
Veja quanto cada concessionária recebeu a mais (deve para o Paraná – aproximadamente, segundo o MPF)
Rodonorte: R$ 6,4 bilhões
Ecocataratas: R$ 1,4 bilhão
Caminhos do Paraná: R$ 1,1 bilhão
Econorte: R$ 744,9 milhões
Viapar: R$ 202,7 milhões
Veja a placa da Rodonorte assumindo a corrupção

Oposição questiona acordo que prejudica os paranaenses
O acordo feito pela Justiça Federal do Paraná com a Rodonorte chamou a atenção dos deputados estaduais Arilson Chiorato (PT) e Requião Filho (PT). Os parlamentares são autores de uma Ação Popular (nº5056317-95.2021.4.04.7000), movida contra as concessionárias de pedágio em 2021 e que, de acordo com determinação do próprio MP no ano passado, deveriam ter sido intimadas juntos para participar da negociação, o que não ocorreu.
Na ação dos deputados, haviam sido anexados documentos que comprovavam o débito das pedageiras com do Estado de quase 10 bilhões de reais em obras não realizadas. Deste montante, só a Rodonorte era devedora de mais de R$ 6 bilhões. No entanto, no acordo homologado pela Justiça Federal do Paraná na última quarta-feira (07), o valor declarado como ‘devido’ pela empresa foi de apenas R$ 321.223.158,92 (trezentos e vinte e um milhões, duzentos e vinte e três mil, cento e cinquenta e oito reais e noventa e dois centavos).
O resultado foi desastroso e o valor global e total do acordo ficou de R$ 1.177.952.740,00 (um bilhão, cento e setenta e sete milhões, novecentos e cinquenta e dois mil e setecentos e quarenta reais). Desse valor,856.729.581,08 (oitocentos e cinquenta e seis milhões, setecentos e vinte e nove mil, quinhentos e oitenta e um reais e oito centavos),corresponde ao valor dos danos fixados no acordo de leniência firmado entre a RDN e o MPF. Porém, o valor reconhecido como, de fato, devido pela RDN para realização de obras viárias nas rodovias paranaenses, foi de pouco mais de R$ 321 milhões de reais.
Os deputados ainda não obtiveram acesso aos termos do acordo, mas tanto Arilson Chiorato quanto Requião Filho irão se manifestar formalmente no processo.
“Esse acordo é questionável. Vamos exercer nosso papel de fiscalização e não deixar que o povo paranaense seja prejudicado. Os beneficiários das rodovias não foram ouvidos. A dívida da Rodonorte de R$6 bilhões, que questionamos na Justiça, não deve ser liquidada por tão pouco, sem consultar as autoridades locais e a população. Ainda não sabemos os valores e termos exatos, mas vamos solicitar todas essas informações o quanto antes, porque o Paraná não merece pagar duas vezes pelo mesmo investimento”, afirma o deputado Arilson.
O deputado Requião Filho relembra que um documento encaminhado à Assembleia Legislativa pela própria Agepar confirma que houve a cobrança de uma taxa-extra, embutida na tarifa paga pelos usuários nas últimas décadas, que somaram R$ 10 bilhões a mais de arrecadação das concessionárias.
“Além delas não terem realizado todas as obras prometidas nos contratos, todo esse dinheiro cobrado a mais deve ser devolvido. Mas para isso, a Justiça precisa considerar a ação que protocolamos no ano passado, apresentando todos esses dados, não apenas uma parte dele. A Rodonorte deve muito mais do que estão acordando para pagar, são bilhões de dívidas que deixarão para trás em obras que receberam e não realizaram ao longo de duas décadas”, ressalta Requião Filho.
O advogado Luiz Fernando Delazari, que representa os deputados na Ação Popular, também se manifestou:
“O degrau tarifário é um acréscimo nas tarifas, a ser paga somente após a realização de obras de duplicação. Obras que nunca aconteceram. Mesmo assim as tarifas aumentaram e as concessionárias lucraram absurdamente. O Estado abrir mão de mais de 5 bilhões de reais, neste momento em que afirma não possuir recursos financeiros, a ponto de privatizar a COPEL, é no mínimo incoerente, pra não dizer criminoso. Na próxima semana pediremos providências para cobrar essa diferença, já que nunca fomos intimados para qualquer acordo.”
Considerando o sigilo dos “atos praticados durante as tratativas de conciliação estão documentados nos Processos SEI 0010575-42.2021.4.04.8000 e0004734-57.2021.4.04.8003 no âmbito do TRF da 4ª Região e da Justiça Federal do Paraná”, os parlamentares vão se manifestarem definitivo após consultar os termos exatos do acordo, e os impactos diretos para o Paraná.
Porém, têm a convicção da necessidade de julgamento da Ação Popular, para que haja devolução aos cofres públicos, dos valores cobrados ilegalmente pela concessionária Rodonorte durante a concessão que encerrou em novembro de 2021.
VEJA DIVULGAÇÃO DO ACORDO FEITA PELA JUSTIAÇ DO PARANÁ