Romanelli defende corte do Bolsa Família para quem gasta o benefício em apostas


O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) defende que pessoas que recebem dinheiro do Bolsa Família e gastam parte do benefício em apostas online (bets) devem ter cortes no programa federal.
“Uma boa solução seria cortar o benefício de quem usa o dinheiro para fazer apostas”, afirmou o deputado nesta quarta-feira (25).
Na avaliação de Romanelli, é um absurdo que recursos públicos acabem na conta de casas de apostas virtuais. “É um benefício criado para ajudar famílias mais vulneráveis e não para alimentar um sistema de jogatina. Se não for possível cortar integralmente, que as pessoas deixem de receber pelo menos o valor que gastaram em apostas a cada mês”, disse o deputado.
De acordo com o Banco Central, cinco milhões de brasileiros inscritos no Bolsa Família transferiram, via PIX, R$ 3 bilhões para as chamadas Bets em agosto. O gasto médio por beneficiário foi de R$ 100,00. No mesmo mês, as plataformas de aposta receberam R$ 21 bilhões em transferências eletrônicas.
“Os beneficiários do programa federal responderam por 17% do total. É um desvirtuamento completo do Bolsa Família”, avalia Romanelli.
Em 2023, mais de 300 empresas de apostas movimentaram entre R$ 60 bilhões e R$100 bilhões no Brasil. Isso representa quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
“Se não colocar um freio neste sistema, teremos muitos brasileiros enrolados com gastos em jogos de azar. Além de cortar o Bolsa Família, é necessário proibir o uso do cartão de crédito em apostas”, observou o deputado Romanelli.
Beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bi para bets em um mês, diz BC
O BC (Banco Central) divulgou nesta segunda-feira (23) uma análise sobre o mercado de jogos de azar e apostas online no Brasil.
O documento traça um perfil dos apostadores e destaca que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas virtuais apenas no mês de agosto.
Cerca de 24 milhões de pessoas físicas participam de jogos de azar e apostas no país. Segundo o BC, a estimativa considera os consumidores que realizaram ao menos uma transferência via Pix para essas empresas durante o mês de agosto de 2024, mês de referência dos dados revelados.
O total apostado pelos brasileiros em bets em agosto foi de R$ 20,8 bilhões. Desse volume, o BC estima que 15% ficaram com as plataformas de apostas virtuais e o restante foi distribuído aos apostadores como prêmio. O estudo contemplou 56 bets.
Maioria dos apostadores tem entre 20 e 30 anos, aponta o relatório do BC. O valor médio mensal das transferências aumenta conforme a idade.
Para os mais jovens, os aportes rondam os R$ 100 por mês. Já os mais velhos destinam mensalmente mais de R$ 3.000 para as plataformas.
Beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões às empresas de aposta virtual. O montante foi desembolsado por membros de 5 milhões de famílias com direito ao benefício social.
Entre eles, 4 milhões são chefes de família, ou seja, aqueles que recebem diretamente a renda do governo. Só estes enviaram R$ 2 bilhões (67% do volume total) por Pix para as bets em agosto.
Parlamentar diz que os dados subestimam os valores enviados para as bets. O senador Omar Aziz (PSD-AM), responsável pelo pedido da análise técnica, afirma que os dados consideram apenas os recursos enviados por Pix e omitem apostas pagas por outros meios, como cartões de débito e de crédito.
Famílias de baixa renda são as mais prejudicadas pelas apostas esportivas. “É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, avalia o BC.
O BCB está atento ao tema e precisa ainda de mais dados e tempo para avaliar com maior robustez suas implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população.
Banco Central
Bets são mais populares do que investimentos no Brasil
Dados do último Raio-X da Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado) mostram que 14% da população (cerca de 22 milhões de pessoas) fez ao menos uma aposta online em 2023. No mesmo período, apenas 2% realizou aplicações na Bolsa. O único investimento que é “maior” que as bets é a poupança (25%).
“O BCB está atento ao tema e precisa ainda de mais dados e tempo para avaliar com maior robustez suas implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população”, Banco Central.
Regulamentação das plataformas de aposta está na mira do governo federal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou na semana passada existir uma “pandemia” responsável pela dependência de jogos eletrônicos no Brasil. Ele defende normas mais rígidas para a publicidade das casas de apostas e o bloqueio da utilização do cartão de crédito nas plataformas.