‘Traiano confessou um crime de corrupção. Pois bem, corrupto é’, diz deputado Renato Freitas


O deputado estadual Renato Freitas (PT) que chamou o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), deputado Ademar Traiano (PSD), de corrupto, no dia 09 de outubro, agora reafirma e com provas a mesma declaração.
“O mundo gira, girou, as provas vieram e hoje eu digo com provas porque o próprio presidente da Casa assinou e confessou um crime de corrupção. Pois bem, corrupto é.”
Traiano e Plauto Miró (União Brasil) admitiram ao Ministério Público do Paraná o recebimento da propina e assinaram um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), em dezembro de 2022. Com esse acordo, eles terão que devolver R$ 187 mil cada e, desta forma, não responderão processo criminal.
Renato Freitas chamou Traiano de corrupto na sessão plenária de 09 de outubro. Em virtude da discussão em plenário, Traiano apresentou uma representação contra Freitas por quebra de decoro no Conselho de Ética.
Ao se defender perante o Conselho de Ética, que poderia cassar o mandato do parlamentar, Renato anexou parte do processo que contém a delação de Vicente Malucelli, homologada pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
“Como eu vou quebrar o decoro dizendo a verdade? A verdade não pode ser uma ilegalidade e nem algo que envergonhe a Assembleia Legislativa do Paraná, é exatamente o oposto, a verdade orgulha não só os membros da Assembleia Legislativa do Paraná, ou deveria, como principalmente o povo que os elegeu”, afirmou o deputado na terça-feira (5).
Nesta semana, o relator do processo no Conselho de Ética, Matheus Vermelho (PP), apresentou parecer no qual diz ter considerado a “preservação da soberania popular das urnas” e propôs a pena de advertência por escrito.
Porém, de acordo com o presidente do Conselho de Ética, deputado Jacovós (PL), o acordo firmado por Traiano com o Ministério Público no qual o presidente da Alep confessa ter recebido propina não foi considerado pelo relator.
Os membros do colegiado pediram mais vista, ou seja, mais tempo para analisar o parecer. A previsão é de que a decisão final saia na segunda-feira (11).
PLAUTO E TRAIANO CONFESSARAM QUE RECEBERAM PROPINA EM RENOVAÇÃO DE CONTRATO NA ALEP: JUSTIÇA DERRUBA CENSURA DAS REPORTAGENS

A Justiça derrubou a liminar da juíza juíza Giani Maria Moreschi, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que proibiu a publicação de reportagens que retratam o esquema de corrupção da TV Assembleia, envolvendo o ex-deputado de Ponta Grossa, Plauto Miró Guimarães Filho (União Brasil) e o presidente da Alep, Ademar Traiano (PSD).
Os dois confessaram ao Ministério Público que receberam propina do empresário Vicente Malucelli, na licitação da TV Assembleia. A nova decisão é desta quarta-feira (6) e foi assinada pelo desembargador Rosaldo Elias Pacagnan.
A juíza que censurou as matérias, Giani Maria Moreschi, afirmou na decisão “que o caso corre sob segredo de justiça”. A juíza mandou tirar do ar as reportagens da Globo News, da RPC Paraná e do Jornal Plural, matérias do Rogério Galindo. A juíza também proibiu a veiculação de novas matérias sobre a delação em todos os veículos de imprensa.
Com a nova decisão (liminar derrubada) pelo desembargador Rosaldo Elias Pacagnan, detalhes das confissões de Traiano e Plauto e da delação de Vicente Malucelli podem ser divulgados.
Traiano e Plauto fecharam um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) em dezembro de 2022 com o Ministério Público e admitiram terem recebido vantagem indevida do empresário Vicente Malucelli.
Malucelli era um dos responsáveis pela TV Icaraí, que venceu uma licitação para fazer o planejamento e produção de conteúdo para a TV Assembleia — canal de TV da Assembleia Legislativa do Paraná. O contrato foi firmado em 19 dezembro de 2012. O prazo era de 36 meses, com valor total de R$ 11,4 milhões.
As regras do ANPP firmado pelos deputados com o Ministério Público determinam que aqueles que assinarem o acordo devem confessar o crime e devolver o dinheiro recebido. Em troca, não serão processados na Justiça.
Traiano e Plauto terão que pagar o valor de R$ 187 mil a título de reparação. O pagamento deverá ser feito em uma única parcela.
O jornalista Rogério Galindo, do Jornal Plural, escreveu que “os áudios ambientais parecem confirmar o que Vicente disse em sua delação: que Traiano e o então primeiro-secretário da Assembleia, Plauto Miró (União), teriam recebido R$ 100 mil cada. Supostamente, o dinheiro seria para a reeleição dos dois, mas durante as conversas fica aparente que Traiano pretendia dar outro destino para o dinheiro, pagando flores do casamento da filha e destinando parte da verba para uma conta de uma oficina mecânica”.
Conforme a matéria desta quarta-feira (6) de Rogério Galindo, no Jornal Plural, Vicente Malucelli teria sido chamado por Traiano e Plauto, perto do momento em que a TV Icaraí teria de renovar seu contrato com a TV Assembleia, em 2015. Traiano “teria dito que precisava de um dinheiro para campanha e escreveu no papel o valor de R$ 300 mil”. Plauto teria ficado quieto. Mas depois pegou propina também.
Veja trechos gravados pelo delator – empresário Vicente Malucelli – (Fonte: Rogério Galindo/Jornal Plural)

Na delação, Vicente afirmou às autoridades que, numa reunião na Assembleia Legislativa, em agosto de 2015, com Ademar Traiano e Plauto Miró, o presidente da Assembleia pediu R$ 300 mil. Na época, Plauto Miró exercia a função primeiro secretário da Casa.
Segundo Vicente Malucelli, após falar com o acionista do Grupo Malucelli, Joel Malucell,” o valor da propina fechou em R$ 200 mil”.
Em 2022, Traiano e Plauto fizeram acordo com o MP e confessaram que receberam propina.
(Esta matéria foi escrita em parceria com o Jornal Plural, jornalista Rogério Galindo)
O que dizem os citados
A TV Icaraí informou que rescindiu o contrato de Vicente Malucelli em julho de 2021. “A TV Icaraí Ltda. Tem a esclarecer que o senhor Vicente Baptista Malucelli Neto teve o seu contrato de prestação de serviços rescindido na data de 16/11/2021, em razão de condutas incompatíveis com as regras de governança da empresa e, portanto, não integra mais os quadros nem responde por este veículo de comunicação”
A defesa de Vicente Malucelli classificou, nesta quinta-feira (7), a nota da TV Icaraí como inverdadeira. Afirmou que Vicente Malucelli é colaborador do Ministério Público nos escândalos de corrupção anunciados.
Disse também que Joel Malucelli é quem foi preso quando a operação aconteceu justamente por conduta incompatível com as regras de governança corporativa.
O grupo J. Malucelli e o empresário Joel Malucelli não se manifestaram.
O presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, disse que não pode se manifestar sobre informações que tramitam em segredo de justiça.
O ex-deputado Plauto Miró não se pronunciou.