Demissão de servidor da UEPG gera polêmica e denúncia de perseguição


A demissão do técnico administrativo Wilton Correia Paz, servidor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desde 1997, provocou forte repercussão dentro e fora da instituição. Lotado no Departamento de Jornalismo, onde atuava na organização dos laboratórios de informática e no repositório de trabalhos de conclusão de curso (TCCs), Wilton afirma ser vítima de “perseguição política, religiosa e por orientação sexual”, atribuída ao atual reitor Miguel Sanches Neto.
Por outro lado, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) afirmou ao Porta Mareli Martins que o processo movido contra o funcionário foi por “invasão do sistema de interno da UEPG” e por “vazamento de informações nas redes sociais”. A universidade não citou nada que envolva perseguição por política, religião e orientação sexual. (Veja a nota no final do texto)
“A Universidade Estadual de Ponta Grossa recebeu, em 2022, denúncia de invasão do seu sistema interno de folha de pagamento e, posteriormente, vazamento dos dados subtraídos nas redes sociais. Durante os três anos de tramitação do processo, houve oportunidade de produção de provas e oitiva de testemunhas, observados os princípios da ampla defesa e do contraditório. Em sessão pública do COU, o denunciado foi defendido pelos seus advogados. Por maioria, os conselheiros decidiram pela confirmação da decisão da comissão”, disse a UEPG.
O desligamento foi decidido por meio de Processo Administrativo Disciplinar (PAD), instaurado após denúncia de acesso indevido ao sistema interno de folha de pagamento da universidade e divulgação de dados.
Embora a Justiça tenha determinado que o caso não era passível de demissão — aplicando multa de dois salários mínimos e 80 dias de serviço comunitário — o PAD seguiu em curso e culminou na decisão de demissão, aprovada por maioria no Conselho Universitário (COU).
O Portal Mareli Martins conversou com Wilton Correia Paz e ele “admitiu ter acessado o sistema e divulgado informações que, segundo ele, já estavam disponíveis no Portal da Transparência”.
O funcionário também afirmou ter feito “denúncias ao Ministério Público sobre supostas rachadinhas envolvendo doações de campanha à UEPG em troca de cargos”. A denúncia, inicialmente anônima, foi formalizada e encaminhada à Procuradoria Jurídica da universidade, originando os processos administrativo e criminal.
“Esta demissão é resultado de perseguição pessoal por parte do reitor, com quem já tive relação de amizade”, afirmou Wilton Paz.
Segundo Wilton, as represálias começaram após ele “não apoiar Miguel Sanches Neto nas eleições para reitor em 2014 e 2018”. O funcionário acusou a universidade de perseguição política, religiosa por orientação sexual: “os ataques ocorreram também pela minha orientação sexual e por ser praticante do Candomblé e os ataques se intensificaram após a posse do atual gestor”, disse.
Entre os episódios relatados estão transferências de setor, disponibilidade funcional e difamação pública. Wilton acusa o reitor de utilizar sua página pessoal no Facebook para atacá-lo. A postagem foi registrada em Ata Notarial.
O escritório Correia, Guimarães e Santos Advogados, que representa Wilton, ingressou com representação junto ao Governo do Paraná — instância final responsável pela homologação da demissão — solicitando a revogação ou substituição da pena. A defesa argumenta que houve disparidade na aplicação das sanções, já que outros servidores envolvidos no mesmo episódio foram punidos apenas com advertência.
O Departamento de Jornalismo da UEPG, em nota, manifestou apoio público ao servidor, repudiando o que considera uma demissão injusta e desproporcional.
Wilton, que possui formação em Artes Visuais, Ciências Contábeis e mestrado em Jornalismo, afirma que continuará lutando para reverter a decisão e denunciar o que considera um caso de perseguição institucional. “Não é só sobre mim. É sobre o direito de existir, de se expressar e de trabalhar com dignidade”, declarou.
O que diz a UEPG
O Portal Mareli Martins questionou a UEPG sobre o assunto. Em nota, a universidade afirma que “o processo seguiu os trâmites legais, com respeito à ampla defesa e ao contraditório”.
A instituição também destaca que “todas as decisões colegiadas são respeitadas pela alta administração e que outros desligamentos de servidores seguem o mesmo rito”.
Conforme a UEPG, a demissão ocorreu porque o funcionário teria invadido o sistema e vazado na internet informações sigilosas.
Veja a íntegra da nota:
A Universidade Estadual de Ponta Grossa recebeu, em 2022, denúncia de invasão do seu sistema interno de folha de pagamento e, posteriormente, vazamento dos dados subtraídos nas redes sociais. O Núcleo de Tecnologia da Informação identificou tecnicamente a autoria e realizou a denúncia, na forma exigida por lei.
Foi nomeada comissão para condução do processo administrativo, instaurado em conformidade com a legislação vigente. Durante os três anos de tramitação do processo, houve oportunidade de produção de provas e oitiva de testemunhas, observados os princípios da ampla defesa e do contraditório.
Durante o trâmite, o denunciado foi representado por advogado constituído por ele. Após a decisão da comissão de processo administrativo disciplinar (PAD), sugerindo a penalidade de demissão, houve recurso ao Conselho Universitário.
Em sessão pública do COU, o denunciado foi defendido pelos seus advogados. Por maioria, os conselheiros decidiram pela confirmação da decisão da comissão.
Houve a interposição de novo recurso, conforme legislação, ao qual ainda cabe apreciação. Se mantida a sugestão de demissão, o processo será encaminhado para o Governador do Estado do Paraná, a quem cabe a apreciação e a decisão final.
Todas as decisões colegiadas são respeitadas pela alta administração da Universidade.
Outros desligamentos de servidores de carreira seguem o mesmo trâmite.
Com a colaboração de Eder Carlos Wehrholdt, estagiário de Jornalismo, conforme convênio de estágio firmado entre o Portal Mareli Martins e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).