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Feminicídio aumenta no Paraná e em 10 estados: Brasil registra recorde de mortes ligadas a gênero em 2024

Feminicídio aumenta no Paraná e em 10 estados: Brasil registra recorde de mortes ligadas a gênero em 2024
  • Publishedjulho 25, 2025
Feminicídio aumenta no Paraná e em 10 estados: Brasil registra recorde de mortes ligadas a gênero em 2024.

O Brasil registrou em 2024 o maior número de feminicídios desde que o crime foi tipificado em 2015. No total, 1.492 mulheres foram vítimas de assassinatos motivados por gênero, uma média de quatro por dia em todo o território nacional.

Os dados, compilados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, revelam que essa violência letal não demonstra sinais de recuo, mesmo com a queda nos homicídios gerais. As tentativas de feminicídio também dispararam, com cerca de dez mulheres sobrevivendo diariamente a essas agressões em potencial.

Apesar do cenário preocupante em nível nacional, o estado do Paraná destaca-se negativamente ao ir na contramão da tendência geral de redução da violência letal feminina. Para entender isso, é preciso diferenciar o feminicídio dos homicídios gerais de mulheres.

Em nível nacional, o Brasil observou uma queda de 6,4% nos homicídios dolosos de mulheres em 2024. Isso significa que, embora os feminicídios tenham aumentado, menos mulheres foram mortas por outras razões (como brigas, roubos ou outros crimes comuns).

No Paraná, contudo, essa redução não ocorreu: o número total de mulheres assassinadas no estado permaneceu praticamente estável (247 em 2023 para 246 em 2024). Além disso, enquanto o feminicídio cresceu 0,7% no Brasil, o Paraná registrou um aumento acentuado de 33,7% (de 81 para 109 casos) em 2024.

Esse salto coloca o estado como o terceiro com o maior número absoluto de feminicídios no país, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. A gravidade da situação paranaense é ainda mais evidente ao analisar a proporção: quase metade das mulheres assassinadas no Paraná (44,3%) em 2024 foram vítimas de feminicídio, um aumento significativo em relação aos 32,8% registrados em 2023.

Estados em que o feminicídio aumentou

O número de vítimas de feminicídio aumentou em 11 estados. Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo registraram, juntos, 757 feminicídios em 2024 – 50,7% do total dos registros no país. No ano anterior, esse conjunto de estados tinha registrado 637 mortes do tipo, valor 18% mais baixo do que o atual.

Perfil das vítimas e dinâmica dos crimes

Os números revelam um padrão: a maioria das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres negras (63,6%) e jovens, com idade entre 18 e 44 anos (70,5%). Há também um aumento preocupante de casos envolvendo adolescentes e mulheres com mais de 60 anos, indicando que a violência de gênero atinge diversas faixas etárias.

A residência da vítima continua sendo o local mais perigoso, concentrando 64,3% dos crimes, e a arma branca é o instrumento mais utilizado pelos agressores. A análise dos dados feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) aponta que os autores desses crimes são, em sua vasta maioria, pessoas próximas às vítimas: companheiros e ex-companheiros respondem por quase 80% dos casos de feminicídio com autoria identificada.

Esforços, desafios e como denunciar

As autoridades e a sociedade civil têm buscado formas de combater essa epidemia. O Paraná, por exemplo, promove a “Caminhada do Meio-Dia”, um ato de mobilização e memória que em 2025 reuniu mais de 2 mil pessoas em Curitiba e se estendeu por outras 180 cidades do estado.

Essa iniciativa, coordenada pela Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), visa sensibilizar a população e reforçar as políticas públicas de proteção. O estado também implementou o programa Recomeço, que prevê auxílio financeiro a mulheres em situação de violência, e expandiu significativamente os fundos e conselhos municipais de apoio às mulheres.

Apesar dos esforços, a rede de proteção ainda é falha em prevenir mortes. No Brasil, 121 mulheres com medidas protetivas ativas foram assassinadas em 2023 e 2024, um dado que expõe as lacunas na fiscalização e no cumprimento dessas medidas.

Especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública alertam para a necessidade de uma atuação policial mais assertiva, como patrulhas específicas, para garantir a efetividade da proteção. Além disso, fatores como a pandemia de Covid-19 e a ascensão de discursos ultraconservadores e de ódio são citados como elementos que contribuem para o agravamento da violência de gênero.

O Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado em 22 de julho no Paraná, em memória da advogada Tatiane Spitzner, serve como um lembrete anual da urgência em enfrentar esse problema social. A denúncia continua sendo uma ferramenta essencial: em casos de emergência, ligue 190 ou 181 (para denúncias anônimas).

 

Com a colaboração de Levi de Brito Cantelmo, estagiário de Jornalismo, conforme convênio de estágio firmado entre o Portal Mareli Martins e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

 

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